Determinados fármacos (ver tabela abaixo referente a alterações de alguns fármacos) podem afetar parâmetros bioquímicos e hematológicos por indução enzimática ou interferência direta nas metodologias. Portanto, é fundamental que o clínico informe a medicação que está sendo administrada no animal. O ideal é a suspensão, quando possível, da medicação alguns dias antes da coleta do sangue, entretanto, esta é uma decisão a ser tomada única e exclusivamente pelo médico veterinário.
Para a realização de raspados cutâneos, cultura e antibiograma de pele os animais deverão estar SEM o uso de medicamentos tópicos e/ou antimicrobianos orais há no mínimo DEZ DIAS.
FÁRMACO | Alterações laboratoriais |
Aminoglicosídeos | Azotemia, hipocalcemia, hiperfosfatemia, trombocitopenia;Proteinúria, glicosúria, leucocitúria. |
---|---|
Anfotericina B | Anemia hipoproliferativa;Uremia, hipocalemia;Proteinúria. |
Cefalosporina | Aumento no nível sérico de creatinina;Leucocitúria. |
Drogas antineoplásicas | Anemia hipoproliferativa;Neutropenia, trombocitopenia (vincristina produz trombocitose). |
Fenilbutazona | Anemia hipoproliferativa;Neutropenia, trombocitopenia autoimune, azotemia;Aumento no tempo de coagulação. |
Furosemida | Trombocitopenia;Urina ácida;Aumento do nível de CO2 total. |
Glucagon | Hiperglicemia, hiperinsulinemia. |
Glicocorticóides | Leucocitose, neutrofilia, monocitose, eosinopenia, linfopenia, trombocitose;Corpúsculo de Howell-Jolly em cães;Uremia, hiperglicemia; Aumento na ALT, AST e FA em cães; Queda do cálcio, fósforo, tiroxina e cortisol endógeno; Hiperinsulinemia; Urina ácida. |
Levamisol | Trombocitopenia. |
Glicocorticóides | Anemia hemolítica;Metaemoglobinemia, trombocitopenia;Hemoglobinúria; Aumento da ALT, AST, FA e Bilirrubinas. |
Penicilinas | Trombocitopenia;Queda da tiroxina. |
Polimixina | Azotemia. |
Salicilatos | Anemia hipoproliferativa, trombocitopenia, aumento no tempo de coagulação, azotemia, queda no nível de tiroxina. |
Sulfonamidas | Anemia macrocítica normocrômica ou hipoproliferativa ou hemolítica;Aumento no tempo de coagulação;Uremia, hipoglicemia; Aumento da ALT. |
Tetraciclina | Trombocitopenia, queda da uremia. |
Para uma boa coleta, deve-se solicitar a restrição alimentar ou hídrica necessária para cada tipo de exame. Uma boa contenção é imprescindível para uma boa localização da área de coleta e uma diminuição do estresse do animal. Após a contenção deve-se realizar o garrote, mas deve-se tomar atenção já que o garroteamento prolongado favorece a agregação plaquetária e a hemólise (que pode alterar os resultados laboratoriais). Ao perfurar a veia com a agulha, deve-se puxar o êmbolo lentamente; caso a agulha saia da veia tente não ficar puxando o êmbolo fora da mesma, uma vez que a pressão negativa originada dessa ação favorece a hemólise. Outro ponto importante se refere a pós coleta, ao colocar o sangue coletado no tubo deve-se antes retirar a agulha da seringa (a estreita passagem da agulha e a pressão do êmbolo para a saída do material favorece a hemólise).
Para informações adicionais , acessar o tipo de exame desejado.
O estresse algumas vezes decorrente do manejo do animal para a coleta da amostra, pode ocasionar hiperglicemia e alterações no leucograma, geralmente leucocitose com neutrofilia e linfopenia em cães, e linfocitose em gatos, com aumento do teor das enzimas musculares.
Todo material empregado na obtenção de amostras biológicas destinadas a exames laboratoriais deve ser cuidadosamente preparado e selecionado para que, aliado a uma boa prática de coleta e armazenagem, haja a menor interferência possível nas propriedades originais da amostra coletada. Alguns exames podem ser colhidos no período da tarde, desde que obedeçam ao período estabelecido de jejum, entretanto, algumas dosagens como Cortisol, Ferro, Cálcio e ACTH devem ser realizados no período da manhã.
O exame de urina deve ser feito fora do período do sangramento do cio, entretanto, para a determinação alguns hormônios e sorologia para leishmaniose, o médico veterinário deve lembrar que estes podem variar durante as fases do ciclo estral das fêmeas. Não há relatos sobre alterações hematológicas relacionadas ao período do cio em cães e gatos.
EXAME | Alterações Causadas pela Lipemia |
Hematologia | |
---|---|
Hemoglobina | Aumento |
CHCM | Aumento |
Proteína Plasmática | Aumento |
Análise Sérica | |
Enzimas | Diminuição na Lipemia Severa |
Amilase | Diminuição na Lipemia Severa |
Outras Análises | |
Albumina | Diminuição |
Proteina Total | Diminuição |
Cálcio | Aumento |
Glicose | Aumento |
Fósforo | Aumento |
Bilirrubina | Aumento |
Potássio, Sódio, Cloro | Diminuição se o método envolver diluição |
EXAME | ALTERAÇÕES |
Hematologia | |
---|---|
Contagem de eritrócitos | Diminuição |
Hemoglobina | Aumento em relação a contagem de eritrócitos e hematócrito |
CHCM | Aumento |
VCM | Diminuição |
Proteína Plasmática | Aumento |
Antígeno de von Willebrand | Diminuição |
Análise Sérica | |
AST | Aumento |
ALT | Aumento |
LD | Aumento |
CK | Aumento |
Amilase | Diminuição |
Lipase | Aumento |
ALP | Aumento ou Diminuição (depende do método utilizado) |
Proteina Total | Aumento |
Albumina | Aumento |
Cálcio | Aumento |
Fósforo | Aumento |
Creatinina | Não se altera / Aumento / Diminuição |
Potássio | Aumento (eqüino, bovino, cães da raça Akita) |
Bilirrubina | Leve Aumento |
EXAME | Alterações causadas pela hemólise |
Hemograma | |
---|---|
Contagem de eritrócitos | Diminuição |
Hematócrito | Diminuição |
Hemoglobina | Aumento |
CHCM | Aumento |
VCM | Diminuição |
PPT | Aumento |
EXAME | Alterações causadas pela hemólise |
Bioquímico | |
---|---|
AST | Aumento |
ALT | Aumento |
LDH | Aumento |
CK | Aumento |
Amilase | Diminuição |
Lipase | Aumento |
FA | Aumento ou Diminuição (depende do método) |
PT | Aumento |
Albumina | Aumento |
Cálcio | Aumento |
Fósforo | Aumento |
Creatinina | Diminuição (depende do método) |
Potássio | Aumento (eqüino, bovino e cães da raça akita) |
Bilirrubina | Leve aumento |
O organismo animal pode ser acometido de inúmeras patologias e cada uma apresenta diferentes exames a serem pedidos. Abaixo segue uma planilha com sugestão de exames frente a algumas alterações.
SUSPEITAS | EXAMES | NOME DO PERFIL |
Avaliação hepato-renal para início de tratamentos ou como primeiros exames frente a uma doença | Hemograma + ALT + Uréia + Creatinina | Perfil emergencial |
---|---|---|
Paciente Senil | Hemograma + ALT + Uréia + Creatinina + Glicose + Urinálise | Perfil Geriátrico |
Paciente suspeito de hepatopatia | ALT + FA + Bilirrubinas e frações + PT e frações | Perfil Hepático I |
Paciente hepatopata – caso crônico ou em tratamento | Hemograma + ALT+ FA +Bilirrubinas e frações + PT e frações + GGT + Glicose | Perfil Hepático II |
Paciente com suspeita de problema renal | Hemograma + Uréia + Creatinina | Perfil Renal I |
Paciente com problema renal crônico ou em tratamento | Hemograma + Uréia + Creatinina + Urinálise + Sódio + Potássio + Fósforo | Perfil Renal II |
Paciente Obeso | Hemograma + T4 + Cortisol + ALT + Uréia + Creatinina + Glicose | Perfil cão obeso |
Paciente com derramecavitário | Hemograma + Proteínas Totais e frações + Eletroforese de Proteínas + Uréia + Creatinina + ALT + Análise de líquido cavitário + Citologia do liquido | Solicitar os exames separadamente |
Paciente Pancreático | Hemograma + Amilase + Lipase + Creatinina + Uréia + FA | Perfil Pancreático |
Paciente suspeito de Leishmaniose (para diagnóstico) | Elisa Leishmaniose + Citologia de Linfonodo + Imunohistoquímica | Perfil Diagnóstico Leishmaniose |
Paciente acompanhamento Leishmaniose | Hemograma + ALT + Creatinina + uréia + PT e frações | Perfil Acompanhamento Leishmaniose |
Paciente para avaliação de rotina | Hemograma + Fezes + ALT + Cálcio + Fósforo + Uréia + Glicose | Perfil Check-up |
Paciente anêmico | Hemograma + Contagem de Reticulócitos + Proteínas Totais e frações + Uréia + Creatinina + ALT + Ferro + Urinálise | Solicitar os exames separadamente |
Paciente ictérico | Hemograma + ALT + FA + Bilirrubinas + GGT + Creatinina | Solicitar os exames separadamente |
Pode ser difícil adequar a forma correta da coleta do exame de urina ao manejo do animal, entretanto, improvisos não são bem vindos, uma vez que muitos podem interferir na qualidade dos resultados, como por exemplo, coletar urina do chão, por mais que afirmem que o chão está limpo, nele há sujidades que contaminam a urina e podem ser confundidas com elementos do sedimento urinário.
A micção espontânea é o método mais utilizado, mas deve-se tomar cuidado por haver a necessidade de desprezar o primeiro jato de urina, além de realizar uma assepsia adequada do aparelho genital externo. A amostra deve ser acondicionada em um frasco apropriado e limpo, geralmente a melhor opção é o fornecido pelo próprio laboratório a ser realizado o exame. Outra forma de coleta é por sonda ou punção que consistem em uma menor contaminação da amostra.
A urina deve ser enviada imediatamente ao laboratório em embalagem térmica contendo gelo, caso o médico veterinário tenha a intenção de dosar a bilirrubina, o material também deve vir protegido da luz.
No caso de cultura de urina, esta deve ser colhida em frasco estéril. O ideal é que, neste caso, ela seja colhida na clínica veterinária ou no laboratório veterinário.
As amostras para exames laboratoriais devem ser enviadas imediatamente ao laboratório em embalagem com gelo.
Caso a distância percorrida por essa amostra seja longa, é necessário providenciar no isopor uma área onde a amostra não irá sofrer muita movimentação; não se esqueça de envolver a amostra em saquinhos ou em luvas para evitar que a mesma entre em contato direto com o gelo e perca a identificação (nome do animal, procedência).
A técnica depende da suspeita clínica. Caso o médico veterinário ainda tenha dúvidas sobre a suspeita há
possibilidade da realização de duas lâminas com técnicas diferentes.
Segue uma tabela com a suspeita e a técnica adequada para o exame, em todos os casos, o animal deve estar sem banho há pelo menos 7 dias e não estar fazendo uso de qualquer medicação tópica ou oral.
Suspeita clínica | Técnica para coleta de raspado cutâneo |
Demodex canis | A parte da pele afetada deve ser comprimida vigorosamente entre os dedos para facilitar a extrusão dos ácaros do interior dos folículos. Os raspados devem ser profundos até se observar sangramento capilar e realização de diversos locais. |
Notoedres cati | Os raspados devem ser superficiais, já que o ácaro cava túnel no extrato córneo da epiderme e devem cobrir áreas extensas, pois pode ser difícil encontrar esse ácaro. Deve-se realizar ainda o raspado em áreas com pápulas extensas, crostas amarelas, na região axilar e borda da orelha. |
Otodectes cynotes | Coletar material próximo as orelhas , inclusive raspado profundo. |
Sarcoptes scarbei | Os raspados devem ser superficiais, já que o ácaro cava um túnel no estrato córneo da epiderme e devem cobrir extensas áreas, pois pode ser difícil encontrar esse ácaro. Deve-se realizar ainda o raspado em áreas com pápulas extensas, crostas amarelas, na região axilar e borda da orelha. |
Dermatófitos | Colher material superficial da pele limpa, após cortar o pêlo, de lesões características, as quais variam desde a forma clássica arredondada, eritrematosa com bordas elevadas, até nódulos ulcerados e granulomatosos, alopecia e foliculite. |
Fungos | Efetuar um raspado superficial. Caso o problema de pele esteja associado a um otite realizar uma citologia do conduto auditivo em conjunto com o raspado de pele. |
Quase a totalidade dos exames laboratoriais necessita de restrição alimentar. Poucos não necessitam de restrição, por exemplo, urinálise, fezes, raspado de pele, PCR, imunohistoquímica. Exames como hemograma, bioquímicos e testes imunológicos requerem um jejum de no mínimo 4 horas, para que não ocorra lipemia pós-prandial, levando possíveis alterações nos resultados laboratoriais. Para alguns exames caracterizados como urgentes o jejum não é necessário. Em situações normais, o tempo de jejum varia de acordo com o exame solicitado.
Nas dosagens de glicemia, hormônio e lipídeos recomenda-se um período de 12 horas de jejum.
EXAME | Horas de Jejum |
Colesterol | 12 |
Triglicerídeos | 12 |
Glicose | 12 |
Dosagens hormonais | 12 |
Hemograma | 8 |
Bioquímicos | 8 |
Sorologias | 8 |
O RDW (Distribuição da Largura das Células Vermelhas) é um índice relacionado à anisocitose, isto é, a diferença de tamanho entre as hemácias. Este índice hematimétrico somente é calculado pelos modernos contadores hematológicos automatizados, por isso é altamente sensível. Ele avalia a distribuição dos eritrócitos de uma amostra em relação ao seu diâmetro, refletindo seu grau de heterogeneidade, por isso deve ser avaliado em conjunto ao VGM para classificação das anemias.
O RDW é considerado o índice mais sensível na avaliação da morfologia dos eritrócitos, pois seu valor é estipulado pelos contadores hematológicos quando estes verificam o total de eritrócitos presentes em determinada amostra e os classificam pelo tamanho.
O VGM, parâmetro rotineiramente utilizado, depende de um grande percentual de células com tamanho alterado para apontar anormalidade, e a avaliação morfológica das hemácias nos esfregaços sanguíneos sofre com a subjetividade, tornando-se limitada.
Na Medicina, o RDW foi rapidamente aceito e utilizado, pois se verificou sua correlação com a anisocitose nos esfregaços sanguíneos e na contagem de reticulócitos. Criou-se, então, uma nova forma de classificação das anemias humanas, atualmente baseadas tanto no VGM quanto no RDW. O primeiro índice classifica as anemias de acordo com o tamanho médio das hemácias (micro, normo ou macro) e o segundo, de acordo com a variação entre seu tamanho. Assim, quando o valor do RDW está dentro dos valores de referência, a anemia é chamada homogênea, e quando ele está acima dos valores de referência, a anemia é dita heterogênea.
Em cães, o RDW mostrou-se mais sensível do que o VGM e a avaliação morfológica de anisocitose nas extensões sanguíneas, podendo acusar anormalidade antes dos demais parâmetros. Também foi verificada associação entre o aumento do RDW e o aumento do número de reticulócitos circulantes. Em equinos, sua avaliação tem se tornado cada dia mais importante, devido à não-liberação característica de eritrócitos imaturos na circulação pela medula óssea desses animais. O quadro a seguir, adaptado de D´Avila, 2011, ilustra algumas situações:
Relação VGM /RDW Possíveis causas
VGM ↑/ RDW↑ Alta quantidade de reticulócitos (animais recém-nascidos, anemias hemolíticas ou por hemorragia)
VGM normal / RDW ↑ Desordens nutricionais ou hemolíticas
VGM ↓ / RDW ↑ Deficiência de ferro
VGM normal / RDW normal Desordens hipoproliferativas
BALARIN, M. R. S., LOPES, R. S., KOHAYAGAWA, A., LAPOSY, C. B., FONTEQUE, J. H. Valores de amplitude de
distribuição do tamanho dos eritrócitos (RDW) em equinos Puro Sangue Inglês (PSI) submetidos a exercícios de diferentes
intensidades. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 43, n. 5, p. 637-641, 2006.
D´AVILA, A. E. R. Parâmetros hematológicos e classificação de anemia em uma população de cães atendidos no Lacvet –
UFRGS. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Monografia de Residência. 59 p. Porto Alegre, 2011.
FLAIBAN, K. K. M. C., BALARIN, M. R. S. Estudo comparativo entre a amplitude de variação dos eritrócitos (RDW – Red Blood
Cell Distribution Width) e o Volume Globular (VG), Volume Globular Médio (VGM) e a presença de anisocitose em extensão
sanguínea de cães. Semina: Ciências Veterinárias, v. 25, n. 2, p. 125-130, 2004.
PEDROSO, T. C. Curso de interpretação de hemogramas em Medicina Veterinária. Portal Educação, Campo Grande,
MS. Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/cursos/857/curso-de-interpretacao-de-hemogramas-em-medicina-
veterinaria>. Acesso em 30 jun. 2011.